Transgênero no trabalho: Aprenda a criar um ambiente respeitoso e inclusivo

Realidade de pessoas trans no mercado de trabalho

Segundo o Boletim  n.º 02/2020 da ANTRA, é a segunda vez consecutiva que o Brasil entra no ranking do país com mais homicídios de pessoas transgênero em números absolutos, triplicando os números do segundo colocado, o México. Do mesmo modo, a ONG Transgender Europe relata que o primeiro quadrimestre de 2020, acompanhado pela pandemia, foi o maior índice de homicídio de todos os tempos.

Além desses terríveis acontecimentos, as pessoas transgênero ainda precisam suportar a pressão e preconceito na escola, gerando falta de preparo e inclusão na sociedade, ou seja, tornam as oportunidades de trabalho quase zeradas.

No entanto, o preconceito não difere no mercado de trabalho, onde as oportunidades são raras! A rejeição, para muitos, é iniciada em casa e quando não se tem apoio familiar, a renda e sustentação financeira tendem a diminuir e até mesmo negativar.

A maior dificuldade não se encontra somente na contratação, mas também, no dia a dia como colaboradores de uma empresa. É necessário estabelecer regras, leis e principalmente, criar uma cultura na empresa para obter a inclusão.

Existem níveis de inclusão, diferenças entre si e é necessário que sua empresa se identifique em qual jornada ela está, veja:

  • Inclusão: São as adaptações feitas pela empresa para acolher diferentes pessoas, trajetórias e características, aceitando um desenvolvimento pleno.
  • Integração: As pessoas trans podem viver no ambiente de trabalho, mas elas precisam se adaptar à empresa.
  • Segregação: É o distanciamento inconsciente (falta de informação) e forçado de outros colaboradores, assim como no mesmo espaço físico.
  • Exclusão: É a restrição de oportunidade para as pessoas trans, seja na contratação, permanência ou crescimento profissional e pessoal.

Acontece que, nem todo trans é harmonizado e mastectomizado, gerando assim, resistência sob a visão social e criando empecilhos na socialização na empresa. Segundo o Instituto Center for Talente Inovation, cerca de 61% dos membros da LGBTQIA+ precisam esconder seu gênero ou sexualidade no trabalho, para então serem aceitos.

Você sabe o significado das siglas LGBTQIA+? Vou te explicar:

L: Lésbicas
mulheres que se identificam com seu gênero e tem preferência por mulheres

G: Gays
homens que se identificam com seu gênero e tem preferência por homens

B: Bissexuais
pessoas com preferência por dois ou mais gêneros

T: Trans
(engloba travestis, transexuais e transgênero) pessoas que não se identificam com os gêneros que lhes foram atribuídos na hora do nascimento

Q: Queer
pessoas que transitam entre os gêneros sem se identificar com rótulos

I: Intersexuais
pessoas não definidas distintamente como homens ou mulheres (hermafroditas)

+: outras letras, como A de assexual

O que é diversidade?

De maneira simples, a diversidade é um ambiente que acolhe uma pluralidade de perfis e comportamentos, independente de sua classe social, cultura, raça, crença, religião, idade, gênero, estado civil, ideologias, capacidade física entre outros.

No entanto, a diversidade nas empresas não significa dar prioridade somente para alguns grupos de pessoas, mas ter a cultura de não distinção, respeitando primeiramente cada indivíduo. É importante que seja uma colaboração mútua, onde empresa e colaborador possam ter vantagens na contratação, ou seja, ambos precisam agregar e receber valor na organização.

É importante que as pessoas trans tenham um canal direto e seguro com seu empregador

Como a diversidade pode ajudar a empresa?

Para a empresa existem vantagens também: abertura de oportunidades para inovação, maior conexão com um público maior, melhor gestão de risco e tudo isso formado por diversas culturas. 

Há também a contribuição com o employer branding (a imagem que seus funcionários têm da sua empresa), pois, você estará construindo uma empresa que abraça as diferenças, livre de preconceitos e que tem espaço para todos.  Além, do melhor desenvolvimento do clima da organização, o que torna mais propício ao crescimento profissional e pessoal dos colaboradores. 

Entretanto, é necessário sempre lembrar que a cultura de diversidade só funciona se realmente acreditam que experiências diferentes podem trazer riqueza e melhorias à empresa.

Veja 15 dicas para incluir pessoas transgênero no ambiente de trabalho

1. Chame pelo nome de preferência

Algo simples, mas que conta muito para respeito são pessoas trans serem chamadas pelo nome que escolheram para si, não importa se não está registrado em seus documentos, é importante que sejam tratados por seu nome social, aquele com que a pessoa trans se identifica. Caso esteja com dúvidas, seja franco e pergunte por qual nome a pessoa quer ser chamada. Esse nome também deverá constar em seu e-mail, holerite, crachá, cartão de pontos e todos os outros documentos que envolvam a visão do público.

2. Ofereça espaço

É importante que as pessoas trans tenham um canal direto e seguro para que sejam ouvidas e possam relatar como estão se sentindo em relação ao ambiente de trabalho, sugestões do que precisa melhorar e que possam relatar casos de abusos sofridos por seus colegas de trabalho.

3. Veja pessoas transgênero como talentos

Não adianta contratá-los e não querer vê-los crescer ou desenvolver um plano de carreira. Um profissional para se destacar é necessário promovê-lo, mas isso não acontece com a população trans, quando são contratados permanecem no mesmo cargo. Eles precisam chegar a cargos de liderança para que a empresa possa abraçar, de fato, a diversidade e conscientizar os outros colaboradores, é necessário, antes de contratação, colocar em prática esses pontos.

4. Utilização dos banheiros

Utilizar os banheiros e vestiários do gênero que se identificam é importante para que as pessoas trans possam se sentir bem e acolhidas. Algumas empresas determinam e até obrigam que os banheiros devem ser utilizados exclusivamente para o gênero imposto ao nascer, como profissional e pessoa, os transgênero se sentem desgastados e humilhados.

5. Forneça informações e treinamentos livres para toda a equipe!

Os colaboradores precisam conhecer e entender a definição de igualdade e equidade e como se relacionar com todas as pessoas. As regras aqui mencionadas são básicas, mas muitas pessoas não possuem o conhecimento, é necessário que a transmissão dessas informações sejam rotineiras.

6. Faça palestras

Incentive seus colaboradores a terem mais contato com assuntos sobre diversidade. Convide pessoas que tenham propriedade sobre o assunto para contar um pouco de sua história e conscientizar os demais colaboradores. É importante lembrar que para ter uma cultura como esta, não é de uma hora para outra, é preciso construí-la.  

7. Respeite a privacidade

Não faça perguntas sobre procedimentos estéticos ou cirúrgicos, além de ser invasivo e deselegante, esse assunto é pertinente somente para as pessoas que os realizam, os procedimentos não interferem em sua capacidade profissional.

8. Acerte os pronomes

Parece óbvio ou simples, mas acertar os pronomes na hora de conversar com pessoas transgênero é muito importante. Cuidar para utilizar o pronome correto no masculino ou feminino dos substantivos da forma que a pessoa se identifica.

9. Seja um aliado

É importante abordar qualquer discussão, brincadeira ou fofoca que ouvir no ambiente profissional. Enquanto a conscientização não estiver concretizada na empresa poderá ocorrer episódios como esses, mas nada que uma conversa reservada não resolva.

Essa abordagem deve ser feita por um aliado ou observador, alguém que tenha o conhecimento e possa orientar da melhor forma os demais colaboradores, o ideal é que não seja a pessoa afetada ter que fazer a correção.

10. Implemente políticas de tolerância zero com o preconceito

Após toda a conscientização já comunicada, crie políticas de tolerância zero para garantir um ambiente seguro, respeitoso e inclusivo, assim como canais diretos e seguros, um ambiente justo gera pessoas mais felizes e satisfeitas, resultando em mais produtividade.

11. A empresa deve aprender a lidar com possíveis resistências

Visto todas as dicas anteriores, é possível que nessa transformação haja resistência entre os colaboradores, mesmo com a política de tolerância zero anunciada, eles deverão se adequar à cultura de diversidade que está inserida no ambiente de trabalho.

Entretanto, é necessário entender que muitas pessoas não estão acostumadas a lidar com a diversidade no trabalho. “Esse processo de passar a conviver com pessoas diferentes, precisa ser feito sempre com cuidado, com ações afirmativas positivas e ressaltando os benefícios da diversidade”, disse Keyllen, grande ativista da causa LGBTQIA+.

Porém, todas as transformações têm seus aprendizados, tanto pessoal como profissional, essa transformação faz com que os colaboradores criem afeto ao trabalhar com as pessoas trans, ganhando aprendizado profissional, novas formas de ver seu trabalho e criar soluções.

Por isso, a empresa deve estar aberta também aos colaboradores que tiverem resistências, devem ser acompanhados por medidas educativas e antes de tudo, orientados para que ajam com respeito pela diferença das outras pessoas.

12. Estimule a criação de grupos de comitê ou comunidades

Construa grupos de comitê e/ou comunidades, para que pessoas trans possam liderar ações de diversidade efetivas que beneficiem ambos os lados. A tendência atual é a formação de squads (redes ou grupos) que sejam feitos de forma horizontal e com o objetivo de empoderar seus colaboradores, com grupos de afinidade e assuntos focados no tema, diversidade.

13. Pense em benefícios e dê abertura para as pessoas serem quem elas são

Temos como exemplo o Banco do Brasil, primeiro banco que permite que os funcionários trans utilizem seu nome social, o banco oferece benefícios para casais homoafetivos: licença maternidade! Os funcionários que adotaram uma criança com seu marido, tem o direito de se afastar de suas atividades. Outra empresa famosa é a StarBucks que incluiu a transição de gênero no plano de saúde da empresa.
A atitude dessas empresas são exemplos e inspirações, pense sempre fora da caixa!

14. Vá além

Compartilhe e divulgue o seu compromisso com o tema diversidade, utilize as redes sociais e incentive outras empresas a fazerem o mesmo. Mas, tenha cuidado e somente divulgue se você realmente apoia a causa e se a prática está ativa na empresa.

Além de conscientizar o público, você pode influenciar outros stakeholders (grupos de interesse), construindo diretrizes para terceiros, clientes, fornecedores, consumidores e todos que participam da sua cadeia de valor, e então, promover o desenvolvimento social e econômico das pessoas trans.

15. Encontre “brechas”

Você precisa ter em mente que qualquer data, assunto ou ações são canais para comunicação e conscientização da inclusão de pessoas transgênero no ambiente de trabalho, tanto para dentro da empresa como para a sociedade.
No dia 28 de Junho é celebrado o Dia do Orgulho LGBTQIA + e é um dos momentos perfeitos para relembrar e recontar a história. A data foi especialmente feita para a representatividade e pontua diversos direitos universais que foram negados.

Esse é um exemplo de como há vários assuntos e datas que podem ser comunicadas introduzindo o assunto de pessoas transgênero e diversidade.

Agora que vimos todas as dicas fundamentais para incluir e oferecer um ambiente de trabalho melhor para pessoas transgênero, aqui vão dicas do que não deve ser feito:

O que não fazer?

1. Não recrimine a escolha de estilos visuais (roupa, cabelo, adereços);
2. Não faça suposições ou julgamentos sobre a identidade de gênero, ou a orientação sexual;

3. Não pergunte se a pessoa é “homem ou mulher” e não fale as seguintes frases: (acredite, essas frases são frequentemente ditas):

  • “Ela é muito bonita para ser lésbica”
  • “Você já fez cirurgia de mudança de sexo”
  • “O que você é?
  • “Mas é homem que virou mulher ou mulher que virou homem?”
  • “Opção sexual”
  • “Travesti não é mulher de verdade”
  • “Como era seu nome?”
  • “Você é bonito (a), nem parece ser trans”

Resumindo:

  • Utilize termos, substantivos, adjetivos e pronomes de acordo com a escolha da pessoa transgênero;
  • Ofereça canal aberto, direto e seguro para que as pessoas trans tenham total liberdade para conversar;
  • Utilize termos neutros quando necessário e pergunte para a pessoa qual o nome que gostaria de ser chamada;
  • Incentive, estimule, faça ações ativamente sobre: diversidade, respeito e inclusão; 

Independente de qual seja a cor, raça, gênero, sexo, crença entre outros, é dever de todas as organizações atuarem nos cuidados de seus colaboradores, sem exceção!

Com a conscientização em massa, será possível que o mercado de trabalho seja cada vez mais receptivo e acolhedor para toda a nação trans, oferecendo melhores ambientes profissionais e pessoais. Para muitos deles um emprego formal é um sonho distante.

Lembre-se: A missão de criar consciência na equipe não deve ser da própria pessoa, mas da empresa, é necessário que laços sejam criados para obter aliados e defensores da causa.

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